Fragas de Pena-má
Para além das cascatas do Caldeirão, Candosa e da Misarela, o concelho de Vieira do Minho é presenteado com uma queda de água única e cheia de misticismo, as Fragas de Pena-Má. Com cerca de 80 metros de altura, as Fragas da Pena-Má situam-se na freguesia de Salamonde, numa apertada garganta aberta pelo pequeno regato que tem o nome de Rio-Mau. Em torno da cascata e da sua envolvente pitoresca está associada uma crença popular, segundo a qual, as gentes da terra e das freguesias vizinhas procuravam este local para curar os males das crianças.
A lenda conta que:
«Vão sempre meia duzia de pessôas, - para não haver mêdo - mas tudo em silencio profundo. Vão por um caminho e voltam por outro differente, aliás a creança morre.
A mulher passadeira vae á frente. No sitio dos passes, pára, volta a cara para a nascente do regato ... abre os pés até á distancia de uns 70 centimetros, arregaça a saia... Nessa altura aproxima-se pela rectaguarda outra mulher (ordinariamente é comadre ou amiga velha da passadeira) com a creança.
A passadeira então pergunta:
- O que é que tu me dás?
- Doenças das Penas-Más, - tal é a resposta.
E ahi vae a primeira passadella (são sempre três). - Passam a pobre da creança por entre os pés da passadeira.
Repetem a oração três vezes , como dissemos.
Em seguida tiram a camisa que a creança leva vestida, vestem-lhe uma nova em folha, que já vae de casa de proposíto para isso , entregam a creança á mãe ou á pessôa que a levou, e a passadeira volta-se então para a foz do regato e na mesma posição passa por ... os pés a camisa tirada á creança, e exclama:
Raios te parta e a Satanaz,
Na rocha das Penas-Más,
Camisa maldita,
Camisa proscripta…
Camisa doente,
Que o mal não sente.
Na tua viagem para o mar
A doença levarás
Que esta creança traz...
Camisa doente, que o mal não sente,
Na tua viagem para o mar
A doença levarás
Que esta creança traz.
Raios partam as doenças,
Raios partam o Satanaz...
Viva aquella creancinha
Curada nas Penas-Más.
E atira com a camisa pela agua abaixo.
Depois tudo palra. Chegam a casa, e então uma bôa ceia é o fecho da obra.
O facto é que as passadelas são sempre de noite, para que as passadeiras não sejam alvo de ditos picarescos e chuchadeira cerrada da parte das pessôas mais atiladas.
Parece porém, que a mésinha só dá resultado com creanças de peito, ou de 2 a 5 annos.
No sitio das Penas-Más, e d'alli até ao rio, tudo são camisas de creanças aos pedaços»
In, Vieira J.A. (1923). Vieira do Minho: Notícia Histórica e Descritiva. Ed. Jornal de Vieira, Fac-cimile da edição de 1925, 2000 Vieira do Minho, p. 332